A população de São Paulo acredita que a capital está mais polarizada do que realmente é, com muito mais petistas e bolsonaristas do que a cidade tem. A percepção é que o município está dividido entre aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e simpatizantes do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). No entanto, quase 70% dos moradores não se identificam diretamente com nenhuma dessas forças políticas.
Essa é uma das conclusões da pesquisa conduzida pelo Monitor do Debate Político no Meio Digital, lotado no Cebrap, em parceria com a organização “More in Common”. O monitor dedica-se desde 2016 a estudar a polarização do debate político na sociedade.
Outra conclusão da pesquisa é que a população da capital paulista acha que tem mais bolsonaristas do que petistas na cidade. Até mesmo entre quem se identifica com o PT prevalece a percepção de que os aliados de Bolsonaro são maioria em São Paulo.
No entanto, o percentual daqueles que se dizem petistas é mais do que o dobro de bolsonaristas na cidade. Quando os pesquisadores perguntaram aos entrevistados com qual força política eles se identificam, 21% se disseram petistas e 9,9%, bolsonaristas. A maioria (69,1%) disse não se considerar parte de nenhum dos dois grupos políticos ou preferiu não responder.
A pesquisa foi realizada em novembro, depois das eleições municipais, e ajuda a explicar o que aconteceu na capital: a nacionalização do debate, com a disputa entre petistas/ esquerdistas e bolsonaristas, ficou em segundo plano e não foi o que mais pesou na escolha do eleitor, que reelegeu o prefeito Ricardo Nunes (MDB) e derrotou o deputado federal Guilherme Boulos (Psol) no segundo turno. Nunes teve o apoio de Bolsonaro - que tem alta rejeição na cidade - e Boulos é aliado de Lula e teve o PT na vice da chapa eleitoral. O prefeito venceu em 54 das 57 zonas eleitorais da cidade, avançando em redutos que tradicionalmente votam na esquerda.
Coordenador do Monitor do Debate Político no Meio Digital, o professor da USP e pesquisador Márcio Moretto diz que a percepção de que os bolsonaristas são maioria na cidade pode ser explicada pelas dificuldades políticas enfrentadas atualmente pela esquerda, que “se sente acuada”, e também pelo “barulho” que a direita consegue fazer, sobretudo nas redes sociais.
Moretto destaca também o fato de menos de um terço (30,9%) dos moradores de São Paulo se identificar como petistas ou bolsonaristas, ao mesmo tempo em que a percepção entre os entrevistados é de que esse percentual é de quase de 50% para cada uma das forças políticas.
“As pessoas acham que a população está bem dividida, polarizada, mas apenas uma minoria se identifica com o PT ou com Bolsonaro”, afirma.
Para o professor da USP, o resultado eleitoral deste ano em São Paulo, com a vitória de Nunes, mostrou que o que pesou em favor do prefeito foram a máquina pública, o “voto de continuidade” e a alta rejeição de Boulos - que prejudicou o desempenho do candidato do Psol. A maioria dos eleitores, diz Moretto, não teve o voto guiado pela disputa entre petistas/ lulistas e bolsonaristas. “Não foi o que definiu a eleição em São Paulo.”
Moretto afirma que o petismo ainda tem “uma força enorme no país”. O professor destaca o crescimento do bolsonarismo nos últimos anos, mas pondera que o “grau de identificação” da população com esse grupo político ainda enfrenta dificuldades, e ressalta que em São Paulo, por exemplo, o número de pessoas que se identificam com Bolsonaro é metade dos que se dizem petistas.
A pesquisa tem margem de erro de 2,6 pontos percentuais, para mais ou para menos, e nível de confiança de 95%. Foram entrevistadas presencialmente 1.416 pessoas, em pontos de grande circulação da cidade, em duas rodadas de pesquisa de campo nos dias 16 e 23 de novembro.